Em 1988 eu passei o mês de
janeiro cobrindo as férias do Guidacci no Jornal do Commercio. Coincidentemente,
no dia 4 daquele mês, Henfil faleceu em decorrência da Aids, cujo vírus
contraiu numa transfusão de sangue submetida devido a sua condição de hemofílico.
Recebi a notícia da morte de
Henfil quando cheguei em casa já quase meia-noite (na época não tínhamos a
internet para nos deixar informados em tempo real). Fui para a prancheta tentar
bolar alguma coisa bacana para homenagear o cartunista e que pudesse ser publicado no Jornal do Commercio no dia seguinte. Esse jornal é um dos mais
antigos do Brasil, e sua linha editorial não permitia charges que fugissem do
tema “política e economia”. Mesmo assim, resolvi desenhar alguma coisa. Peguei
as revistas Fradim, dei uma olhada na
minha coleção de Pasquim e tentei
imitar o traço de Henfil. Quem vê assim de primeira seus desenhos pode até
acreditar que é fácil chupinhar aquele traço caligráfico, mas copiar os
desenhos de Henfil é como tentar falsificar uma assinatura.
Olhando os desenhos de Henfil, a
gente percebe que ele costumava desenhar com canetas hidrocor, pilot ou coisa
semelhante. Os traços eram firmes e ligeiros, e as linhas eram aparentemente
carregadas de tinta. E esse era o problema. Eu sempre fui um desenhista
medíocre. Não consigo desenhar sem antes fazer dezenas de esboços, e só depois de
muitas tentativas finalizo com nanquim. Para piorar, naquela época eu desenhava
com bico de pena, daquelas que a gente mergulha num vidro de tinta naquim, o
que praticamente me impossibilitava de arriscar e desenhar no papel direto, sem
esboço e sem pensar muito como aparentemente fazia Henfil. Fiz vários rascunhos
e até finalizei alguns, mas cada vez que terminava um desenho eu praticamente
odiava e jogava na lixeira. Depois de horas tentando, lá pela alta madrugada
terminei um que ficou “menos pior”, no caso o que ilustra essa postagem.
Durante a tarde, cheguei na
redação do Jornal do Commercio e mostrei o desenho para o Aziz Ahmed, que era o
nosso diretor executivo, e pedi a ele para me deixar publicar o desenho. Aziz
tinha fama de durão, mas apenas olhou e, sem dizer nada, fez um sinal positivo
e aprovou.
O desenho, obviamente, nem de
longe chega aos pés do traço que Henfil imortalizou. Mas foi o máximo que eu pude
fazer no alto da minha inexperiência. Detalhe: a legenda foi feita com o
auxílio daquelas lâminas de Letraset, já extintas.
9 comentários:
Boa,Zé.Hoje completam 23 anos que o Henfil partiu.Faz muita falta.abs.NICO
Belo desenho, Zé. Eu que não entendo lhufas, achei igual aos originais do Henfil no traço.
Grande abraço
Frederico
O desenho ficou ótimo, Zé. Estou certo de que o Henfil aprovou.
Um grande abraço.
O tempo passa e vai pra longe, até com o que é bom... :(
Zé, seu blog já era o mais completo sobre quadrinhos brasileiros dentre todos que já conheci. Essa foi a cereja P&B no sundae. Não vi mais ninguém lembrar de homenagear o melhor cartunista que esse país já teve. Bendito seja seu blog, e que sejam muitos anos de trabalho não só ilustrativo, como historiográfico, como você vem fazendo aqui. Grande abraço do
Luiz com Z.
Oi, "Luiz com Z"! Agradeço muito pelo comentário! Cliquei em seu nick, mas não localizei o link que pudesse me levar a seu e-mail ou blog. Se puder, entre em contato novamente e forneça uma forma da gente poder enviar uma mensagem. Ok? Grande abraço!
Henfil é eterno!
Show, Zé!
História sensacional. Uma aula. Abço
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