quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Homenagem ao Henfil



Em 1988 eu passei o mês de janeiro cobrindo as férias do Guidacci no Jornal do Commercio. Coincidentemente, no dia 4 daquele mês, Henfil faleceu em decorrência da Aids, cujo vírus contraiu numa transfusão de sangue submetida devido a sua condição de hemofílico.
Recebi a notícia da morte de Henfil quando cheguei em casa já quase meia-noite (na época não tínhamos a internet para nos deixar informados em tempo real). Fui para a prancheta tentar bolar alguma coisa bacana para homenagear o cartunista e que pudesse ser publicado no Jornal do Commercio no dia seguinte. Esse jornal é um dos mais antigos do Brasil, e sua linha editorial não permitia charges que fugissem do tema “política e economia”. Mesmo assim, resolvi desenhar alguma coisa. Peguei as revistas Fradim, dei uma olhada na minha coleção de Pasquim e tentei imitar o traço de Henfil. Quem vê assim de primeira seus desenhos pode até acreditar que é fácil chupinhar aquele traço caligráfico, mas copiar os desenhos de Henfil é como tentar falsificar uma assinatura.
Olhando os desenhos de Henfil, a gente percebe que ele costumava desenhar com canetas hidrocor, pilot ou coisa semelhante. Os traços eram firmes e ligeiros, e as linhas eram aparentemente carregadas de tinta. E esse era o problema. Eu sempre fui um desenhista medíocre. Não consigo desenhar sem antes fazer dezenas de esboços, e só depois de muitas tentativas finalizo com nanquim. Para piorar, naquela época eu desenhava com bico de pena, daquelas que a gente mergulha num vidro de tinta naquim, o que praticamente me impossibilitava de arriscar e desenhar no papel direto, sem esboço e sem pensar muito como aparentemente fazia Henfil. Fiz vários rascunhos e até finalizei alguns, mas cada vez que terminava um desenho eu praticamente odiava e jogava na lixeira. Depois de horas tentando, lá pela alta madrugada terminei um que ficou “menos pior”, no caso o que ilustra essa postagem.
Durante a tarde, cheguei na redação do Jornal do Commercio e mostrei o desenho para o Aziz Ahmed, que era o nosso diretor executivo, e pedi a ele para me deixar publicar o desenho. Aziz tinha fama de durão, mas apenas olhou e, sem dizer nada, fez um sinal positivo e aprovou.
O desenho, obviamente, nem de longe chega aos pés do traço que Henfil imortalizou. Mas foi o máximo que eu pude fazer no alto da minha inexperiência. Detalhe: a legenda foi feita com o auxílio daquelas lâminas de Letraset, já extintas.

9 comentários:

hqnico disse...

Boa,Zé.Hoje completam 23 anos que o Henfil partiu.Faz muita falta.abs.NICO

Freddy disse...

Belo desenho, Zé. Eu que não entendo lhufas, achei igual aos originais do Henfil no traço.
Grande abraço
Frederico

Dodó Macedo disse...

O desenho ficou ótimo, Zé. Estou certo de que o Henfil aprovou.
Um grande abraço.

Patricia Kovacs disse...

O tempo passa e vai pra longe, até com o que é bom... :(

Luiz com Z disse...

Zé, seu blog já era o mais completo sobre quadrinhos brasileiros dentre todos que já conheci. Essa foi a cereja P&B no sundae. Não vi mais ninguém lembrar de homenagear o melhor cartunista que esse país já teve. Bendito seja seu blog, e que sejam muitos anos de trabalho não só ilustrativo, como historiográfico, como você vem fazendo aqui. Grande abraço do
Luiz com Z.

Zé Roberto Graúna disse...

Oi, "Luiz com Z"! Agradeço muito pelo comentário! Cliquei em seu nick, mas não localizei o link que pudesse me levar a seu e-mail ou blog. Se puder, entre em contato novamente e forneça uma forma da gente poder enviar uma mensagem. Ok? Grande abraço!

VELOSO disse...

Henfil é eterno!

Flamir ambrósio disse...

Show, Zé!

Unknown disse...

História sensacional. Uma aula. Abço