quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Vale a pena ler

Estava navegando pela internet e acabei esbarrando nesse texto assinado pelo Diogo Sales do blog Trágico e Cômico. É bom saber que não sou o único que acha que quem desenha de graça é vagabundo (ver texto publicado aqui). Leiam e divirtam-se, se é que é possível rir de si mesmo.

Artista é tudo vagabundo e trabalha de graça

O que é arte, afinal? Quero falar de arte hoje, mas num universo bem amplo, do qual eu e um zilhão de arteiros freelancers fazem parte: cartum, caricatura, ilustração, artes plásticas, design gráfico, infografia, etc. Arte é um conceito tão abstrato que a maioria das pessoas acha que não faz sentido pagar por algo que elas não consideram um “serviço”. Desde que o mundo é mundo, 99% da humanidade acha que arte não é (ou não pode ser) profissão, só hobby. Logo, quem está desenhando, está só se divertindo — e quem insistir em “trabalhar” com arte, é porque é vagabundo. Assim sendo, eu sou um vagabundo. E se você desenha, você também é. Pouco importa se você trabalha que nem um camelo e pouco importa quantos cursos você fez ou quantos prêmios ganhou. No final das contas (com bastante trocadilho), essa é a maneira como somos vistos pelo mundo.

O curioso é que essa é mais uma unanimidade burra que o homem médio criou para, logo em seguida, cair numa contradição: não, ele não valoriza mesmo a arte — e tampouco está disposto a pagar por ela —, mas ele aprecia a arte. Deu para entender? Funciona assim: basta achar um cretino que faça uma arte de graça e convencê-lo a trabalhar em troca de “divulgação”. Artistas dos mais variados matizes recebem diariamente ofertas irrecusáveis como essa. É uma aventura edificante estudar as técnicas de abordagem dessa galera que quer (ou melhor, “precisa” — e "pra ontem") de uma arte, mas “não tem verba”. Uns tentam forjar uma "parceria", onde ambos supostamente estarão “investindo”. Tipo aquele “editor” de portal ou site que está “crescendo e ganhando cada vez mais leitores” e precisa de “gente talentosa para fornecer conteúdo” (alguns sofisticaram essa abordagem, sugerindo um "linkbuilding para ambas as partes"). Outros chegam se derramando em elogios, enaltecendo o seu traço, sua técnica, suas cores e… “aproveitando a oportunidade, preciso de um desenho… nada muito complicado, para não tomar seu tempo”. Se já é bom não tomar muito do meu tempo, melhor ainda se não tomar tempo nenhum, né? Mas tem também o visionário. Aquele cara que está montando uma banda de pagode-sertanejo-axé-universitário que vai “bombar” e precisa de um logo, um site e, se bobear, uma capa de disco. Isso sem falar da turminha do “me desenha”… De graça, claro — afinal, é sempre muito divertido passar o fim de semana trabalhando para os outros sem receber um tostão por isso.

No final, pouco importa a abordagem, já que a finalidade é sempre a mesma: “trabalhe de graça para mim — em troca eu vou te catapultar ao total estrelato”. A situação está sendo subvertida a tal ponto que, se o artista recusar a “oferta”, chega-se a uma estranhíssima inversão de papéis. De repente é como se o artista devesse agradecer aos céus por uma oportunidade como essa (quiçá ele até terá de pagar para poder publicar em um espaço tão ilustre que ninguém lê, nem compra e nem acessa). Enfim, desculpa aí qualquer coisa… Mas claro que uns aceitam trabalhar de graça. Outros aceitam fazer por qualquer “déiz real”. Todos unidos pelo amadorismo e pela má qualidade de seus trabalhos, atravessando o caminho de profissionais sérios do mercado. Então, se você é um profissional em busca de espaço, reconhecimento (e pagamento, claro), o que fazer no meio de toda essa pobreza? Se matar? Não ainda, pois surgiu um cara que vai nos guiar por essa estrada esburacada, sem sinalização e sem destino. Um cara que não fica impassível ou intimidado diante de um pedido de “um desenhinho”. Um cara que sempre sabe encontrar a resposta mais irônica e sarcástica (sem deixar de ser elegante) — enfim, a resposta ideal — aos que nos oferecem aquela irrecusável oportunidade de trabalhar por divulgação. Luis Di Vasca é o libertador de todos os artistas e freelancers, constantemente marginalizados e vilipendiados pelo establishment. Sua cruzada contra a obtusidade e o torpor mental do homem médio é comovente e enche a classe artística de orgulho. Portanto, é meu dever retribuir esse “linkbuilding”. Acessem e aprendam com o nosso herói: http://divasca.blogspot.com/.

9 comentários:

Mônico Reis disse...

Mestre Grauna, tudo bom?

Esses dias vi no face um rapaz que ofereceu seus serviços "desenheiros" por míseros 5 reais. Não que exista uma tabela padrão para isso, mas acho que quem se sujeita a trabalhar dessa forma não só se prejudica, mas também toda uma classe de profissionais honestos e que muitas vezes se sustentam com a arte. É complicado.
Sem contar dos trabalhos feitos em troca da milagrosa divulgação e que possivelmente trará muitos clientes no futuro. Trabalho é trabalho e por mais simples que seja, tem que ser remunerado.
Não é mesmo?

Grande abraço.

Freddy disse...

Zé, podemos incluir nesse texto outras formas de arte, como uma que nos é bem conhecida: fotografia. Agora então que todo mundo tem um celular com câmera, como cobrar por um trabalho?
Junte aí música e até futebol (?!). Sim, o que um craque ganha tem a ver com o retorno que ele provoca com sua presença em campo, atração de novos patrocinadores, aumento de arrecadação nos jogos...
Ou seja, aquilatar o valor da arte é uma tarefa realmente árdua.

Zé Roberto Graúna disse...

Verdade, Mônico! Especialmente aqui no Rio tem uma turma de colegas que desenha para uma editora famosa daqui por merreca. E olha que essa editora é grande e nos últimos anos comprou outras editoras aumentando seu poder de atuação. Os colegas que desenham para essa maldita editora não são novatos... ao contrário, são veteranos, com passagens por grandes jornais (inclusive O Pasquim).
O tal colega que você citou, que desenha por 5 pratas, com certeza não deve ser muito rodado. Mas é aquilo... se veteranos (alguns com experiência até em organização de eventos importantes) aceitam uma mariola por um desenho, porque esse ilustre desconhecido não oferecerá seus traços por 5 pratas? Abração!

Zé Roberto Graúna disse...

Oi, Fred! De fato é muito comum essa prática se espalhar por outras áreas. Mas em algumas situações, desenhar para um amigo ou fotografar quebrando o galho para alguma pessoa querida, é mais fácil de administrar, porque geralmente fazemos isso por camaradagem mesmo, e sabemos que esse "trabalhinho" não gera lucro para ninguém. Mas desenhar ou fotografar para uma editora (mesmo que alternativa) de graça ou em troca de "divulgação" é errado mesmo e contamina todo o mercado editorial.
Mas sobre esse hábito da gente pedir uma canja prum músico, um desenho para um artista, ou até uma embaixadinha para um atleta... tem um fato verídico. Certa vez, o Millôr Fernandes foi abordado por uma pessoa conhecida que lhe pediu para contar uma piada (o cara pensou: se o Millôr é humorista, deve ter sempre na manga algo divertido para dar). O Millôr parou, olhou pro tal conhecido e perguntou: "e se eu fosse um pugilista... você me pediria um direto no queixo?". Abração!

Bira disse...

Otimo texto mesmo, Ze'!
E ontem encontrei meu xara' Biratan no HQmix!
Um barato total!
Grande abraco

Cartoon by Biratan disse...

Zé,
Esse texto é certeiro. Nenhum artista vai ser reconhecido se ele não se valorizar. Tanto como pessoa, quanto profissional. Sei que a luta por um lugar no mercado gráfico é imensurável. Mas, sem uma postura firme, profissional, acabamos por nos render as empresas que ditam os seus preços.
Biratan

Cartoon by Biratan disse...

Esse xará aí de cima, artista talentoso o traço, animou a festa do HQMix, com sua gaita buezeira.
Aí, Bira, meu xará. grande abraço.

Zé Roberto Graúna disse...

Biras... Porto e Dantas... Tá rolando no Facebook do Jr.Lopes uma foto intitulada "O encontro dos Biras". Hehehe! Maior barato! Abração pros dois!

Elihu disse...

Ótimo Texto, vou espalhar!!!!