Depois
de ler na imprensa tanta bobagem sobre quem defende a proibição das
biografias não autorizadas, bati com o depoimento do deputado
federal Jair Bolsonaro que mostra o quanto nossos queridos Chico
Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Djavan estão equivocados e
mal orientados. Entre “pérolas” que só uma estranha democracia
como a nossa pode proporcionar, numa entrevista concedida à revista
Época, o deputado afirmou que “eles
que estão defendendo minha tese...
É
preciso alguma censura. Uma censura se faz necessária de vez em
quando. Se não houver certa censura na escola, imagine o futuro da
molecada. Tem de ter!”.
Está
aí o resultado do posicionamento de quem, por interesses pessoais e
pecuniários, fecha os olhos para o passado. Quem não tem nada a
esconder, não tem nada a temer. Por mais "intimidades" que
nossos grandes compositores tenham para guardar nos fundos de seus
baús, com certeza não teremos nada de novo e constrangedor que mude
a história e a trajetória desses que estão entre os maiores
artistas do gênero. Já a figura do nobre deputado, deve mesmo ter
muito a esconder e deixar, como dizem nossos pagodeiros, as coisas no
"sapatinho". Que Chico, Caetano, Gil e Djavan revejam a
tempo suas ideias, antes que seja tarde. Qualquer regra que seja
imposta no sentido de impedir a informação e o conhecimento poderá
ter consequências gravíssimas e sem precedentes. Corremos o sério
risco de ver chegar o dia em que um político poderá dizer o que um
jornal pode ou não publicar a seu respeito. O preço a pagar será
indigesto. Depois, não vai adiantar muita coisa entoar os versos de
é "proibido proibir".
. . .
Fico
imaginando se Herman Lima, o maior historiador da caricatura
brasileira em todos os tempos, que publicou diversos artigos sobre
nossos principais desenhistas de humor, além da belíssima obra em
quatro volumes "História da Caricatura no Brasil" (José
Olympio, em 1963), fosse publicar sua obra nos dias de hoje. Imagine,
amigo leitor, se o pesquisador tivesse que obter a autorização dos
mais de 300 artistas citados em sua pesquisa. Isso praticamente
inviabilizaria a publicação daquele que é o mais importante
trabalho sobre a caricatura nacional e que é referência obrigatória
para todos os pesquisadores que vieram posteriormente. Ou nossos
ilustres parlamentares acordam para a realidade, ou teremos
atividades importantes como as de pesquisador, biógrafo e
historiador ameaçadas por propostas esdrúxulas e reacionárias.
Para
lembrar a importante figura de Herman Lima, selecionei algumas
caricaturas retratando o grande historiador para ilustrar esta edição
de "Desenharte". Os traços de Álvarus,
J. Carlos,
Mendez, e Souza (esse último desenhou exclusivamente para esta
coluna) exaltam o grande escritor e historiador cearense,
sem censura ou autorizações prévias.
A página do Jornal de Letras, nº 183, de novembro |
O desenho do Souza na versão colorida |
5 comentários:
Fiquei honrado com o convite, sobre tudo, com a importância de a quem tive o privilégio de caricaturar.
Orgulha-me ter uma peça do meu acervo fazendo parte ao texto pertinente e assertivo.
Meu agradecimento e reverência.
Realmente, Zé, as pessoas esquecem que pequenas concessões hoje podem se desdobrar em monstros mais à frente. Censura, mesmo que pequena, é prejudicial à democracia.
Abraço
Realmente, Zé, as pessoas esquecem que pequenas concessões hoje podem se desdobrar em monstros mais à frente. Censura, mesmo que pequena, é prejudicial à democracia.
Abraço
Agradeço muito, Souza!
Gostei muito do conjunto do resultado.
Grande abraço!
É verdade, Fred!
Defender a privacidade é uma desculpa tola e perigosa.
O que mais me irritou nessa história foi a origem do movimento.
Como dizia o Millôr: "De onde menos se espera... é que não sai nada mesmo!".
Abração!
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